DESINFORMAÇÃO A RESPEITO DAS ESTATINAS ESTÁ DESENCORAJANDO O USO DE UMA TERAPIA QUE PODE SALVAR VIDAS
Dr. Silvio H. Barberato
Área de interesse: COLESTEROL ELEVADO
Um Alerta da Sociedade Paranaense de Cardiologia
As estatinas representam a melhor opção entre os fármacos disponíveis para diminuir o colesterol. Quando existe indicação precisa, as estatinas reduzem a chance de sofrer infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral isquêmico (“derrame”). É chocante constatar como diversos sites de internet e redes sociais passaram a difundir desinformação a respeito destes remédios (sinvastatina, atorvastatina, rosuvastatina e outros). O público leigo procura informações médicas na internet, mas não tem muitas vezes como filtrar a qualidade das informações recebidas, deixando-se levar por discursos persuasivos, porém perversos. Em geral, as pessoas não checam a confiabilidade das fontes, passando a aceitar como “verdades” fatos que são desprovidos de evidência científica. Os detratores das estatinas põem em dúvida seus benefícios e espalham o medo a respeito de seus efeitos colaterais, negando ao paciente de alto risco cardiovascular a possibilidade de uma terapia que pode salvar sua vida. A rede de difamação das chamadas “fake news” a respeito do colesterol é alimentada por indivíduos com pouco ou nenhum conhecimento científico, que chegam a afirmar que o remédio faz mais mal do que bem, propagam “remédios naturais” e/ou dietas da moda e espalham bizarrices, como por exemplo, a afirmação que ter LDL-colesterol (colesterol “ruim”) mais alto é melhor que tê-lo mais baixo.
Uma consequência nefasta é que uma terapia com tantos benefícios documentados em robustos estudos científicos e recomendada pelas diretrizes das mais respeitadas sociedades de Cardiologia do mundo tem adesão baixa por parte dos pacientes. Milhões de pessoas que são candidatas ao uso das estatinas permanecem sem tratar (50% nos EUA). Aprox. 40% dos indivíduos que recebem uma receita de estatina param de tomar em até 3 meses. Como qualquer medicação, as estatinas podem às vezes gerar efeitos colaterais. As queixas de origem muscular (dor, fraqueza, cãimbras) ocorrem em 5-10% dos casos, em geral com o uso de doses altas de estatinas, e são causa frequente de interrupção do tratamento. Nesses casos, é importante conversar com o médico que prescreveu o medicamento, pois há medidas que podem ser tomadas para a resolução ou atenuação do problema. Em relação aos outros potenciais malefícios propagados pela internet, uma metanálise (grande estudo que une e analisa as informações combinadas dos melhores estudos sobre o tema) publicada em 2018 foi bastante tranquilizadora. Não foram encontrados efeitos adversos sobre a função cognitiva (i.e., estatina não causa “demência” ou “Alzheimer”) nem associação com o desenvolvimento de catarata ou perda da função dos rins. O risco de aumentar a glicemia existe, mas é pequeno (1 caso novo de diabetes para cada 1000 indivíduos tratados) e ocorre principalmente em quem já é pré-diabético. Da mesma forma, pequenos aumentos transitórios das transaminases, enzimas do fígado, podem acontecer em uma minoria dos indivíduos tratados (0.5 a 2%), mas não tem significado clínico (não induzem doença no fígado). Pode-se concluir que o tratamento de longo prazo com estatinas é seguro, com baixo risco de efeitos colaterais, e que seus benefícios superam de longe seus riscos. Desencorajar o uso da estatina no indivíduo que foi avaliado por seu cardiologista de confiança pode trazer graves complicações à saúde cardiovascular, incluindo a morte em alguns casos.
Dr Silvio H. Barberato
Diretor de Comunicação da Sociedade Paranaense de Cardiologia
Referência:
- Nissen E. Statin Denial: An Internet-Driven Cult With Deadly Consequences. Ann Intern Med. 2017; 167 (4): 281-282.
- Mach F et al. Adverse Effects of Statin Therapy: Perception vs the Evidence—Focus on Glucose Homeostasis, Cognitive, Renal and Hepatic Function, Haemorrhagic Stroke and Cataract. Eur Heart J 2018; doi:10.1093/eurheartj/ehy182.